CPMI do INSS determina prisão de presidente de confederação de pescadores
Abraão Lincoln Ferreira, presidente da CBPA, é detido após prestar depoimento e ser acusado de mentir e omitir informações à comissão parlamentar que investiga fraudes em descontos de benefícios.
Yasmim Rodrigues/Bastidores do Tocantins
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS determinou, nesta segunda-feira (3), a prisão de Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA). A decisão foi tomada pelo presidente da comissão, senador Carlos Viana, após o depoente, convocado como testemunha, ser acusado de apresentar informações falsas e se contradizer durante as perguntas. O pedido partiu do relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), e foi acatado pela mesa diretora.
Durante o depoimento, Lincoln utilizou o direito ao silêncio, garantido por um habeas corpus preventivo concedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda assim, a CPMI entendeu que ele mentiu ao afirmar ter renunciado ao comando da Confederação Nacional dos Pescadores e Aquicultores (CNPA) — quando, na verdade, havia sido afastado — e também ao negar conhecer Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”. Em outro momento, o próprio Lincoln admitiu vínculos com o investigado, o que reforçou a contradição apontada pelos parlamentares.
A CBPA é uma das entidades investigadas pela Polícia Federal na Operação Sem Desconto, que apura irregularidades em descontos realizados em benefícios previdenciários entre 2019 e 2024. Segundo o relator, a confederação recebeu R$ 221 milhões em contribuições associativas, com indícios de repasses suspeitos para empresas e pessoas físicas, entre elas a esposa de um procurador do INSS e o deputado estadual Edson Cunha de Araújo (PSB-MA), vice-presidente da entidade. A CPMI também descobriu tentativas de cadastrar 40 mil pessoas falecidas como filiadas e apontou que 99,5% dos beneficiários não reconhecem os descontos aplicados.
Encerrando a sessão, o senador Carlos Viana afirmou que “o silêncio de quem deve explicações grita mais alto que qualquer palavra” e anunciou a prisão em nome dos “aposentados, viúvas e órfãos enganados pela fraude”. Após a ordem, Abraão Lincoln Ferreira foi encaminhado à delegacia do Senado, onde permanecia sob custódia até a última atualização desta reportagem.
