Cobra de ‘bigode’ e que vive em árvores: biólogos descobrem nova espécie de serpente no cerrado tocantinense
Nova espécie de cobra-papagaio foi identificada no Tocantins e Minas Gerais; pesquisadores destacam sua coloração vibrante e comportamento arborícola.

Yasmim Rodrigues/Bastidores do Tocantins
Uma nova espécie de cobra-papagaio foi descoberta no Tocantins e em Minas Gerais. Com cores vibrantes de verde, branco e amarelo, a Leptophis mystacinus é encontrada apenas no bioma cerrado. Seu nome faz referência à faixa preta que percorre a cabeça, próximo aos olhos e acima da boca, formando uma espécie de ‘bigode’, segundo os pesquisadores.
O biólogo Diego Santana é um dos pesquisadores que trabalhou na descoberta da mystacinus. Em entrevista ao Bastidores do Tocantins, ele explicou como foi feito o estudo que identificou a espécie e as diferenças em relação a outras cobras do grupo Leptophis. Segundo o biólogo, a cobra não é peçonhenta e vive majoritariamente em árvores.
Antes da nova espécie ser identificada, apenas 19 do grupo eram catalogadas em todo o mundo, sendo que cinco ocorrem no Brasil. A descoberta foi feita a partir de comparações de materiais coletados no Tocantins em 2017, analisados junto a outros 1.625 espécimes.
“O professor Nelson [um dos pesquisadores envolvidos] e eu analisamos vários materiais que estavam tombados em museus de zoologia. Em 2017, meus alunos coletaram alguns exemplares no Tocantins. O professor Nelson veio para Campo Grande entre 2021 e 2022, e então começamos a avaliar esse material”, explicou Diego Santana.
Segundo o artigo científico Uma nova espécie de cobra-papagaio, Leptophis (Serpentes: Colubridae) do Cerrado brasileiro, publicado na revista PeerJ, a cobra-papagaio é encontrada no México, América Central e América do Sul. No Tocantins, a Leptophis mystacinus foi identificada nas regiões norte e central, nas cidades de Araguaína, Caseara e Pium.

“Essa espécie, até agora, é conhecida apenas para áreas de cerrado. No Tocantins, encontramos em áreas de transição, como em Caseara, entre o cerrado e a Amazônia. Mas todas as regiões onde coletamos esse bicho eram de cerrado”, destacou Diego.
Possível ocorrência em outros estados
A nova espécie pode estar presente em outros estados da região Centro-Oeste.
“Acreditamos que ela possa ocorrer no meio do caminho, então deve existir no leste do Mato Grosso e provavelmente também em Goiás. No nosso artigo, encontramos exemplares confirmados para Tocantins e Minas, mas sabemos que há registros para Goiás e o leste do Mato Grosso”, disse o biólogo.
Como a descoberta é recente, novos estudos ecológicos e de comportamento ainda serão realizados.
“A gente conhece pouco sobre ela. Agora começam os estudos ecológicos. Ela pertence a um grupo de serpentes que não são peçonhentas. São cobras finas, conhecidas como cobra-cipó também. Além de cobra-papagaio, algumas pessoas chamam essa espécie de cobra-cipó verde ou azulão-boia”, explicou.
Essa serpente pertence à família Colubridae e é conhecida por viver em árvores. Seus parentes mais distantes são as cobras caninana e papa-pinto.
“As cobras-papagaios, no geral, gostam de comer lagartos e algumas aves pequenas. Elas dormem nas árvores, mas também podem ser encontradas no chão. São chamadas de serpentes arborícolas”, acrescentou o pesquisador.
Significado do nome científico
O nome Leptophis mystacinus deriva do grego e faz referência à faixa preta acima da boca. O termo mystax significa ‘lábio superior’ ou ‘bigode’, enquanto o sufixo -inus tem o sentido de ‘semelhança’ ou ‘pertencente a’.
“É justamente esse ‘bigode’ que a diferencia de outras espécies como Ahaetulla e Dibernardoi. Além disso, ela possui uma faixa preta escura depois do olho (pós-ocular), que vai até o corpo. Nas outras espécies, quando essa faixa existe, ela é menor e mais discreta”, explicou Diego Santana.
Todas as cobras-papagaios possuem coloração verde, com faixas brancas, marcas pretas e, às vezes, detalhes amarelados. Segundo Diego, os padrões de coloração variam conforme a espécie.