Sete meses após queda da ponte JK, três vítimas seguem desaparecidas e famílias cobram respostas: “É angustiante”, diz irmã
Tragédia entre Tocantins e Maranhão deixou 14 mortos e três pessoas ainda não foram localizadas; famílias relatam dor, burocracia e luta por certidão de óbito.
Yasmim Rodrigues/Bastidores do Tocantins
Mais de sete meses após o colapso da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, na BR-226, que liga o Tocantins ao Maranhão, três vítimas seguem desaparecidas e a dor das famílias se mistura à burocracia e à espera por respostas. O acidente, que ocorreu em 22 de dezembro de 2024, deixou 18 pessoas desaparecidas inicialmente. Destas, 14 corpos foram localizados, e três pessoas ainda não foram encontradas.
As vítimas que seguem desaparecidas são Salmon Alves Santos, de 65 anos, Felipe Giuvannuci Ribeiro, de 10 anos, e Gessimar Ferreira da Costa, de 38 anos. Salmon e Felipe eram avô e neto. A esposa de Salmon e avó de Felipe, Alessandra do Socorro Ribeiro, também estava no veículo e teve o corpo identificado posteriormente.
A irmã de Salmon, Maristelia Alves Santos, lamenta a demora na emissão da certidão de óbito e a impossibilidade de um velório digno. “É angustiante. A gente vive esperando, mas não tem mais esperança de encontrar. O que queremos agora é ao menos a certidão de óbito, para encerrar esse ciclo”, desabafou em entrevista à TV Anhanguera.
O drama das famílias
A família morava em Palmas e seguia para o Maranhão para passar o Natal. A caminhonete onde estavam foi flagrada em imagens no momento da tragédia. O veículo possuía antena de internet Starlink, o que ajudou os familiares a reconhecerem nas imagens o carro e confirmar a presença das vítimas.
Maristelia relatou que o irmão, já aposentado, havia trabalhado por muitos anos em obras de infraestrutura, inclusive na administração de projetos de construção de pontes. “Foi uma ironia dolorosa. Ele passou a vida construindo pontes e morreu em uma que desabou. Ele estava feliz, perto da família, e agora só nos restou o vazio.”
Processo de morte presumida é judicial
Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Tocantins (SSP/TO), a emissão de certidão de óbito sem corpo só é possível mediante declaração judicial de morte presumida, com base no Código Civil. A solicitação deve ser feita pela família por meio de advogado, com análise e decisão cabível ao Poder Judiciário.
Operação de resgate durou 42 dias
O Corpo de Bombeiros do Tocantins atuou nas buscas por 42 dias ininterruptos, encerrando a operação no dia 1º de fevereiro de 2025, véspera da implosão dos escombros da ponte. A operação contou com apoio da Marinha do Brasil, Bombeiros do Maranhão e outros órgãos. A orientação é que novas informações sejam comunicadas ao número de emergência 193.
Risco ambiental e veículos submersos
Além das vítimas humanas, o colapso deixou consequências ambientais. Laudo da Polícia Federal identificou 1,3 mil galões de ácido sulfúrico e defensivos agrícolas submersos no Rio Tocantins. Até maio de 2025, apenas 29 galões haviam sido retirados. A previsão é que a operação de remoção dos resíduos seja concluída até setembro deste ano.
O DNIT informou que aguarda a validação de protocolos de segurança pela Marinha para retomar os trabalhos de mapeamento e retirada dos veículos submersos.
Já o Ibama acompanha a situação e prepara relatório técnico sobre os impactos ambientais após visita e vistorias no local da tragédia.
Missa e homenagem às vítimas
Mesmo sem os corpos, a família de Salmon pretende realizar uma missa no dia 22 de dezembro de 2025, marcando um ano da tragédia. A cerimônia contará com a presença de familiares da esposa e do neto também vítimas do acidente. “Perdemos pessoas queridas, mas seguimos juntos, tentando manter a união para superar a dor”, finalizou Maristelia.



