Justiça aceita denúncia contra ex-governador Carlesse, ex-secretários e delegados por interferência em investigações
Grupo é acusado de aparelhamento da Polícia Civil e obstrução de investigações contra corrupção no Tocantins. Denúncia inclui crimes como organização criminosa, abuso de poder e violação de dever.

Yasmim Rodrigues/Bastidores do Tocantins
O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) e outros 13 réus, incluindo três ex-secretários e dez delegados, foram tornados réus em uma ação criminal que investiga um suposto esquema de interferência na Polícia Civil para barrar investigações de corrupção durante o governo do Tocantins. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público Estadual (MPE-TO) e aceita pelo juiz da 3ª Vara Criminal de Palmas.
Carlesse, que está preso há um mês por risco de fuga internacional em outro processo, é acusado de liderar o aparelhamento da corporação. Segundo a denúncia, entre os atos ilícitos investigados estão mudanças no comando de delegacias, abertura de processos disciplinares contra delegados que atuavam em casos de corrupção e a criação de um manual que limitava entrevistas e críticas de policiais às autoridades.
Histórico das denúncias
Os supostos crimes vieram à tona em 2018, quando Carlesse assumiu o governo. A denúncia aponta que houve uma estratégia deliberada para enfraquecer as divisões especializadas de combate à corrupção, como a DECOR e a DRACCO, resultando na troca de delegados e na paralisação de investigações.
Além disso, mudanças na legislação estadual durante o período permitiram a transferência de delegados sob o argumento de baixa produtividade, o que, de acordo com o MPE, mascarava perseguições. Também foi identificado um documento interno com ordens para remoções específicas em delegacias estratégicas.
Central de espionagem e bloqueio de investigações
Outro ponto central da denúncia é a criação de uma suposta central de espionagem dentro da Polícia Civil. A estrutura teria sido usada para monitorar e obstruir investigações que envolviam o governo estadual, incluindo o acesso indevido a dados sigilosos e a criação de uma lista de alvos (“blacklist”).
A investigação detalhou ainda que delegados substituídos foram bloqueados de acessar os inquéritos em andamento, prejudicando o andamento de casos relevantes. Testemunhas deixaram de ser ouvidas, e mandados de busca e apreensão foram ignorados, segundo o Ministério Público.
Réus e acusações
Entre os acusados estão:
•Mauro Carlesse – ex-governador;
•Claudinei Aparecido Quaresemin – ex-secretário de Parcerias e Investimentos e sobrinho de Carlesse;
•Cristiano Barbosa Sampaio – delegado federal e ex-secretário de Segurança Pública;
•Rolf Costa Vidal – ex-chefe da Casa Civil (atualmente secretário na Prefeitura de Palmas).
O MPE-TO pede a condenação dos réus por organização criminosa, abuso de poder e violação de dever funcional. Também foi solicitada a perda de cargos públicos e o pagamento de R$ 1 milhão em indenização por danos morais coletivos.
A defesa de Cristiano Barbosa Sampaio afirmou que considera a reabertura da investigação injustificada, pois o caso havia sido arquivado há dois anos, e aguarda o acesso aos novos elementos apresentados.
Investigação segue na Justiça Estadual
Com o afastamento e renúncia de Mauro Carlesse, os processos que tramitavam no Superior Tribunal de Justiça (STJ) foram encaminhados à Justiça Estadual. A denúncia detalha mais de 200 páginas de evidências sobre o suposto esquema de aparelhamento, e o caso seguirá em tramitação na 3ª Vara Criminal de Palmas.